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28/08/2019

Água Potável: A Importância do Controle Microbiológico

Em todo o mundo, cerca de três em cada dez pessoas — em um total de 2,1 bilhões — não têm acesso a água potável em casa. Esses dados são do relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) de 2017. Como resultado, todos os anos 361 mil crianças com menos de 5 anos morrem devido a diarreia. Assim, o saneamento deficiente e a água contaminada estão diretamente ligados à transmissão de doenças como cólera, hepatite A e febre tifoide.

A falta da potabilidade da água nem sempre é perceptível à visão ou olfato. Desse modo é necessária uma análise laboratorial para detectá-la. Torna-se importante o controle microbiológico da água justamente por ser veículo de transmissão de bactérias, a saber, coliformes totais e termotolerantes, protozoários, vírus e fungos causadores de inúmeras doenças ao homem.

RECURSO INESGOTÁVEL?

A abundância de água no planeta causa uma falsa sensação de recurso inesgotável.
Segundo especialistas em meio ambiente, 97,5% da água disponível na Terra é salgada, sendo imprópria para o consumo. Apenas 2,493% é doce, mas encontra se inacessível em geleiras ou regiões subterrâneas (aquíferos). Resta somente 0,007% da água encontrada em rios, lagos e na atmosfera disponível para o consumo. Além disso, dados fornecidos pela ONU estimam que em 2050 cerca de 50 países não terão água em quantidade suficiente para toda a sua população.

ÁGUA É SAÚDE

A água contribui muito para a saúde do homem, e esses dois recursos, água e saúde, associados, podem melhorar as perspectivas de desenvolvimento. E essa relação entre água, higiene e a saúde é um conceito que acompanha a humanidade desde o início da civilização.

A água pode ser contaminada no ponto de origem. Por exemplo, esgotos sem tratamento que são lançados em rios e lagos ou aterros sanitários que afetam os lençóis freáticos. Ainda, durante a sua distribuição e, por fim, nos reservatórios particulares, sejam eles de empresas ou domiciliares. As causas mais frequentes da contaminação são a vedação inadequada e carência de um programa de limpeza e desinfecção regular e periódica.

O CONTROLE MICROBIOLÓGICO DA ÁGUA

Para que a água seja considerada potável, após o tratamento convencional os parâmetros físico-químicos e microbiológicos deverão estar de acordo com a Portaria nº 36, do Ministério da Saúde, de 19 de janeiro de 1990. Em seu Anexo apresenta as normas e o padrão de potabilidade da água destinada ao consumo humano, a serem observadas no território nacional.

Os sistemas de saneamento básico adequado e água tratada podem reduzir em 20% a 80% a incidência de doenças infecciosas. Inibe a sua geração e interrompe a sua transmissão.

A patogenicidade dos micro-organismos é relativa. São frequentemente associados à imunidade do seu hospedeiro, características de infectividade e produção de toxinas.

Qualquer micro-organismo é patogênico em potencial, caso encontre um hospedeiro debilitado. Entretanto, apenas um número limitado de espécies microbianas pode provocar doenças em uma porção significativa de pessoas normais.

Os micro-organismos são introduzidos em nosso organismo por via cutânea ou por ingestão de água ou alimentos contaminados.

Para assegurar que a água esteja livre de micro-organismos patogênicos, esta deve passar por um processo de desinfecção. A cloração é o método mais comumente utilizado na maioria dos países. O cloro, na forma do gás cloro ou hipoclorito, adicionado à água, visa destruir ou inativar os organismos alvo. A cloração é um método de simples aplicação, relativo baixo custo e, principalmente, muito confiável.
Desse modo, a água a ser distribuída para a população deve conter um certo teor de cloro residual. Deste modo, previne nova contaminação durante o processo de distribuição.

Na análise ou monitoramento de qualidade de água são empregados indicadores biológicos específicos como as bactérias do grupo coliformes. No Brasil, de acordo com a Portaria n. 518, de 2004, do Ministério da Saúde / ANVISA, a água é considerada potável, sob o ponto de vista microbiológico, quando está de acordo com a seguinte conformidade: ausência de coliformes totais e termotolerantes em 100 ml de amostra de água para consumo, considerando-se assim inofensiva para a saúde do homem.

COLIFORMES

Amplamente distribuídos na natureza, os coliformes se propagam com maior frequência na água. Especialmente, os coliformes termotolerantes, de origem fecal, que têm tido grande atenção da saúde pública. Os coliformes termotolerantes estão associados a um elevado número de patologias cujos agentes etiológicos são isolados em laboratórios de microbiologia clínica e diretamente considerados o motivo da maioria das infecções intestinais humanas conhecidas. O patógeno mais importante desse grupo é a Escherichia coli. Designado como termotolerante, é desprovido de vida livre no ambiente, indicando que quando presente na água, ela está contaminada por fezes.

Alguns outros gêneros como Enterobacter, Citrobacter, Klebisiella e Serratia, vivem na água, no solo e também constituem a microbiota intestinal do homem, assim como a de outros animais de sangue quente, sendo estes caracterizados como coliformes totais.

(Imagem/ref: E. Coli 10000x – Agricultural Research Service)

A METODOLOGIA

As amostras devem ser coletadas em frascos plásticos estéreis de 100 ml, contendo 10mg de tiossulfato de sódio para neutralizar a ação do cloro residual. A temperatura deve ser mantida a 4°C e deve ser analisada dentro de 24 horas.

A técnica de tubos múltiplos é a mais tradicional para a análise de coliformes (totais ou termotolerantes) e E.coli. Esta metodologia permite a quantificação por “número mais provável” (NMP) de micro-organismos. É dividida em duas fases, uma presuntiva e outra confirmativa. Esta última somente é realizada se houver crescimento positivo na etapa presuntiva.

Técnica dos tubos múltiplos para determinação do Número Mais Provável de coliformes

Fase presuntiva: consiste em fazer a homogeneização e transferência de alíquotas e/ou diluições da amostra para tubos de ensaios contendo, no fundo, um tubo invertido para coleta de gás (tubo de Durhan), em caldo lauril triptose. Todos os tubos são incubados a 35°C durante 24 a 48 horas e posterior identificação dos que tiverem crescimento positivo de coliformes totais. O resultado é identificado pela ocorrência de reação ácida (coloração amarelada) ou produção de gás (retida no tudo de Durhan).

Fase confirmativa: efetua-se o repique (transferência de alíquotas com alça de platina) dos tubos presuntivos positivos para tubos preparados da mesma forma que no anterior, porém contendo caldo verde brilhante. Todos os tubos são incubados a 35°C durante 24 a 48 horas e posterior identificação dos que tiverem crescimento positivo de coliformes totais, identificado pela ocorrência de produção de gás nos tubos de Durhan.

De acordo com o número de tubos positivos em cada uma das diluições e das fases utilizadas, determina-se o número mais provável (NMP), tendo como base tabelas estatísticas.


Referências: